terça-feira, 27 de maio de 2014

Mini Ensaio de ensaio sobre um Ensaio de Susan Sontag sobre Machado de Assis

   Antes de me atirar com fome ao texto,  sou tomado por um misto de surpresa e orgulho ao me deparar com um ensaio de Susan Sontag sobre Machado de Assis, principalmente sobre "Memórias Póstumas de Brás Cubas".  Como brasileiro nascido no século XX, muito me surpreende que uma ilustríssima autora estrangeira tenha interesse no nosso Machado de Assis, figura tão universal e importante quanto restrita aos nossos círculos literários e listas de leitura de escola.  Lidos por poucos brasileiros e quase por ninguém fora de nosso país. Woody Allen declarou ser seu autor preferido, o que me parece ser um choque de dimensões paralelas. Como assim, eles conhecem Machado de Assis? Eles não são brasileiros!
    Passeando brevemente pela singular biografia de Machado de Assis, Susan Sontag trata mais da originalidade da narrativa em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", uma fictícia e originalíssima autobiografia póstuma na qual o morto, na primeira pessoa, descreve sua vida medíocre com distanciamento irônico e em vários momentos falando com o leitor, como quando um ator em um filme sai da história e faz um comentário debochado diretamente para nós.  Emocionou-me particularmente a revelação de que após ter seu primeiro livro aprovado para publicação, o editor deu como certa a influência que esta teria sofrido do livro "Epitaph of a Small Winner" -título uma tanto explicativo demais da tradução norte-americana.  Como ela nada conhecia do autor, o editor deu de presente o livro e ela, após lê-lo, declarou sofrer uma influência posterior. Senti o mesmo ao conhecer a música de Horace Silver.
     Em Machado, segundo Susan Sontag, e  -acrescento - J.S. Bach, nota-se uma profunda certeza de um futuro reconhecimento póstumo. Delírios de grandeza ou consciência de uma missão, o fato é que estavam certos ambos em continuar ,independente das circunstâncias, produzindo em grande quantidade suas obras que só seriam reconhecidas na sua grandeza muito depois de suas vidas.
     Compartilho com Sontag a opinião em que qualquer fenômeno cultural pode ter uma análise apaixonada e profunda.  Mozart, The Doors, Tati Quebra-Barraco, Godard e novelas mexicanas, todos tem várias camadas. A paixão, profundidade e fluidez de sua prosa me cativa e me faz perguntar por que não a conheci antes.

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