segunda-feira, 7 de julho de 2014

flash urbano n.7 - Evil Blonde

     Ela era bonita, bem bonita. Loura, corpão violão e um nariz tão perfeito que devia ser plástica, feita no mesmo médico da mãe. Queixo forte, um ar altivo de musa grega com samba no pé.  Cantava, dançava e representava. Vozeirão contralto metálico.  Ex-dançarina de programa de auditório, agora era corista de musicais.  Tirava selfies fazendo pose de gostosa enquanto aguardava a hora de entrar em cena. Talentosa e magnética, tinha um tempo de comédia foda e uma bunda de emocionar. Old school, sem anorexia. Com cintura. Peitos, perfeitos. Com certeza fodia muito, movimentos freestyle, repertório infinito, imaginação interativa.  Já passava dos trinta mas ainda recebia mesada. Namorava um prego que tinha a maior cara de corno. Trocavam declarações de amor em comentários do Facebook. Enquanto isso, ela anunciava a todos os colegas de trabalho que ia pegar fulano, que fulano era gato, fulano era gostoso, fulano tinha um pau enorme.  Mas fulano não queria nada com ela, que stalkeava diariamente seu perfil no Facebook com suas amigas  e colegas. Rastreavam perfis de amigos dele à cata de fotos e informações, até dos tempos do colégio. Diziam que ele era gay, que ele era bi, que ele era tarado, que era brocha, que era maluco. As supostas certezas mais variadas e contraditórias eram debatidas diariamente. Mas não era nada disso. Fulano era casado e não queria confusão. Fulano odiava aquele trabalho mas precisava daquele dinheiro. Fulano era estranho, preferia ficar sozinho, evitava o refeitório e às vezes até a máquina de café. Sofria de uma timidez quase patológica. Olhava para baixo para o nada em um ângulo de 45 º, imerso em seus pensamentos. Nunca sabiam quando estava viajando e quando estava prestando atenção.   Sua cota de malucas já tinha estourado. E colega de trabalho é roubada. Principalmente essa.  Ela salva bichinhos e maltrata pessoas. Faz Yoga, fala Namastê, gratidão, Ommm e o escambau e participa de linchamento virtual e blitzkriegs de bullyings . Seria o tipo de amante que, depois de dar o bote, entrega a cabeça do marido em uma bandeja para a esposa. Mas ele pagou o preço. Sentiu a crueldade vingativa da rejeitada até acabar o contrato de prestação de serviços naquele trabalho dos infernos, que quanto mais perto chegava do fim, mais lento o tempo parecia passar. Mas o tempo passou e nada aconteceu. O pior de tudo é que ele sabia que se ela chegasse junto mesmo em vez de só jogar confete, ele não poderia resistir.  Loura maldita.

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