sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Plano Perfeito

    O plano era perfeito: através da mentalização hiper-concentrada, fruto da obsessão judaico-cristã ocidental, meu espírito sairia durante o sono. A missão, motivo e meio da empreitada, seria invadir os sonhos de Isabel. Como um Íncubo, penetrar seu subconsciente e implantar a minha presença repetidamente. Noite após noite ela sonharia comigo e acordaria pensando em mim. Não tem como dar errado, o cérebro humano é uma usina de energia, pode acender lâmpadas e movimentar objetos. Pode ler pensamentos e levitar. Pode criar mundos e multiplicar sua unidade. Clones de Almas.
     Meu treinamento foi simples: toda noite eu pensava nela com força. Lembrando momentos, frases e principalmente seu rosto. O belo rosto de Isabel. Marcante e angular, poderia ter seguido carreira de modelo. Chegou a fazer ,ainda adolescente, uma sessão de fotos a convite de uma agente que a viu no shopping.  Mas não conseguiu se concentrar, achava ridículo posar, fazer cara de paisagem. Começava a rir ou fazer careta. Isabel adorava fazer careta. Deve adorar ainda, mas agora longe de mim. Muito longe. Sua carreira acadêmica a levava a lugares cada vez mais distantes e exóticos. Sem mim. Já faz três meses que ela fugiu com aquele professorzinho de merda. PHD, grande coisa.
    Era fácil pensar nela com força antes de dormir, já que eu fazia isso o dia inteiro. Desemprego não é sexy.  Coloquei em prática meu plano por um mês com afinco. Ela acordaria ao lado do PHDzinho de merda, só que pensando em mim. Tomaria café lembrando de nossos momentos. Mentalização tem poder. Daí para voltar para mim seria um pulo.

   Julio acordou cedo naquela manhã cinzenta e aproveitou para fazer a mesa do café da manhã. Lia o jornal quando Isabel chegou sonolenta e sentou-se à mesa. Julio recebeu-a com um sorriso:
-Bom Dia, meu amor.
-Bom Dia.
-Dormiu bem? Você parece cansada.
-Tive um pesadelo horrível.

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