quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Por escrito

  Ele confessou seu amor. Preferia tê-lo feito em uma carta escrita à mão com toda a carga emocional da tinta e do baixo relevo impresso manualmente pela caneta, extensão de seu corpo, mas foi vencido pela praticidade do e-mail. Tinha acabado de levar um fora da destinatária e estava com os nervos à flor da pele.  A indignação por ser sido dispensado à queima-roupa pelo telefone despertou emoções que nem sabia que possuía. Construiu castelos de sentimentos, falou desde quando se conheciam, de tudo o que ela representava para ele e tudo o que poderiam vir a ser. Rabiscou poemas, dedilhou sonatas ao piano enquanto soluçava para a lua cheia.  Não tinha esperanças de que ela voltaria, queria causar culpa e um pouco de pena também não faria mal. E exibir seu estilo, sua verve literária. Sabia que tudo seria em vão e enfrentava aquela estrada de sofrimento com valentia e resignação e um pouco disfarçado deboche, rindo de si mesmo daquela situação ridícula. Sabia que ela tinha outros planos que não eram negociáveis e ele não estava incluído. Horas depois veio a resposta, implacável:
- Poxa, você escreve direitinho. Já pensou em publicar contos? Fica bem. Beijinhos.

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